O homem que não dormia,
não sorria e não fumava.
Era um louco atormentado
sitiado de agonia.
O homem que não dormia,
aquarelas não pintava
não usava do bom senso
não era propenso a nada.
O homem de olheiras roxas
era um pobre de matéria
artéria de má circulação
tinha medo das palavras
exalava escuridão.
Este homem já sabia
que a vida assim usava
de ardilosa emboscada
em tudo aquilo que fazia.
Areava as fantasias
nas ladeiras das escadas
pelas quais tão bem desciam
baianas compenetradas.
O homem que não dormia
era fraco, jazia só...
Era o pó, do pó, do pó
destemidamente nas esquinas.
Olhava ao ermo
sem emoções
discernimento
ou ambições.
Era triste vê-lo
nas vitrines da ruas
sem nenhuma candura.
Criatura esquecida
pelos sonhos de uma noite bem dormida.
O homem que não dormia
sentia frio.
Era aterro abandonado pelo tempo
era vento que vagava nos abetos mais estreitos do coração.
O homem que não dormia
O homem que não dormia
era louco
amava as pedras
as selvas e as cercanias
ardia em febre
não tinha fome
nem tinha nome
era só mesmo um pobre homem
que vagava triste,
anonimamente
num dia de sol
na calçada da avenida
do bairro de tua vida.
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