segunda-feira, 15 de março de 2010

Bebo por habito
Para tirar o hálito do tempo
de minh'alma
bebo por prazer
para não ter que explicar muito
e ficar saboreando as dores dos sentimentos

Bebo para largar meu tempo
ao relento
para vomitar invejas
mitigar conceitos
derramar defeitos nas mesas de quem bebe comigo

Bebo para sorrir, exuberar,
para mostrar o outro
que sou eu mesmo
envolto num mar bem solto

Ou por vezes,
menos obvias,
me embriagar de pólvora
e me queimar

Bebo para não ter memória, nem melodia
e remoer as vezes os cascos de vidro de minha fantasia
bebo, saindo assim sem culpa e sozinho
pulando na ultima garupa do caminho

Bebo, bebo sem medo de me perder,
nos sonhos de uma noite de poesia,
de vetustas galerias
orquestras em precipícios

Bebo assim, num declive qualquer
no subúrbio de uma mulher
que nunca me quis assim!

Bebo para sonhar
para não inventar historias
comemorar vitorias
sem jogar fora sua ficção
para perder o fôlego das idéias mais sublimes
para ferir as carnes duras da minha canção

Bebo, para colar gravuras
em muros cinzas
escavar saídas sem solução
para cheirar, sentir o ar onde se torna rarefeito
e respirar

Bebo para provocar cataclismos
asteróides nocivos, povoando meu sangue
contemplar a fadiga
a figura mendiga
de um pedaço de vida
num pedaço de pão

Bebo para sangrar os meus pontos
fugir as ressacas
loucuras sensatas
misérias, valias...

Bebo e não espero cura
e não lhe quero amar
bebo apenas a poesia pura
como qualquer cliente
na mesa deste bar.

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