sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Lamento Catingueiro

Sou barro do chão que nunca foi pisado

Areia branca que nunca soprou

Capim molhado que ainda não foi castrado

Peneira enferrujada, enxada de plantador



Eu sou os campos serenos de mata virgem

Eu sou fuligem de carros que nunca vi

Eu sou a selva fechada, a mala velha

Meu amor sou sentinela que nunca ousou dormir



E no meu peito passava um grande rio

O mesmo rio que nunca atravessou

Molhava os pés, bebia uma mão de água

Saia sem dizer nada e o tempo assim passou



Eu fui pisado, virei redemoinho

Os bois comeram o capim do meu amor

E eu cessei minha dor com a peneira

Com enxada fiz besteira lutando com os lavrador



Os nossos campos foram devastados

O grande rio o homem transportou

Os empresários tomaram as nossas terras

Fizeram monte de guerra, isso nunca se acabou



Vieram os carros, sobraram poucas carroças

E as pessoas começaram a se mudar

Os povoado, a terra, o universo

Para mim sobrou o verso, não conseguiram tirar



O meu lamento é que nem o dos passarinhos

O pouco ninho que não se derrubou

E meu amor ainda estar tão bela

Bebe água na janela, olhando pro que sobrou



Eu sou caboco do mato, sou catingueiro

Sou violeiro cantando a minha dor

Minha alegria é a minha poesia

Com gosto de água fria, que eu bebo no calor

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